Por: Sophia Camargo
Colaboração para o UOL, em São Paulo
O dólar ultrapassou pela primeira vez a marca de R$ 4.
Muitas pessoas acham que isso não as afeta, pois não ganham em dólar nem
pretendem viajar para o exterior em breve. A verdade, porém, é que o dólar mais
alto deixou o brasileiro mais pobre.
"O impacto da alta do dólar na vida das pessoas vai
chegar a todos, inclusive à dona de casa", diz Edgar de Sá,
economista-chefe da FN Capital.
Um dólar tão valorizado retrata uma economia que está em
desequilíbrio, segundo o professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV
Clemens Nunes.
Segundo ele, o Brasil está em situação de desequilíbrio
fiscal, o que mostra que o governo gasta mais do que ganha, e os investidores
não enxergam uma solução sustentável para esse problema num futuro próximo.
"Não há perspectiva de melhora. A consequência disso é
que o real se desvaloriza e ficamos mais pobres. Perdemos poder de compra em
relação ao resto do mundo."
Qual é o primeiro impacto do dólar mais alto?
A alta do dólar afeta a vida das pessoas comuns porque puxa
a inflação para cima.
Muitas matérias-primas são importadas --como trigo, gás e
gasolina. Isso provoca um aumento do pãozinho, do macarrão, da gasolina, por
exemplo.
Além disso, alguns produtos que são produzidos aqui no Brasil
também têm seu preço atrelado ao dólar.
É o caso da soja, da carne, do café, do açúcar, do milho.
Mesmo que eles sejam produzidos no país, quando o dólar está mais caro fica
mais vantajoso para o produtor exportar. Então, se ele mantém o produto para
ser vendido aqui dentro, ele vai querer receber mais por isso.
Outra maneira pela qual a alta do dólar influencia os preços
é que, com o produto importado mais caro, os produtos nacionais acabam também
sofrendo um reajuste. "Os produtores aproveitam a alta do importado para
aumentar a margem de lucro do nacional também", diz Nunes.
Para ele, no curto prazo alguns setores podem até ser
beneficiados com a alta do dólar (ver abaixo). "Mas no médio e longo
prazo, todos perdem, pois a moeda não está desvalorizada por uma escolha, mas
porque a economia está enfraquecida."
Veja quem ganha e quem perde com a alta do dólar
Quem ganha
Balança comercial – A balança comercial é a relação entre as
exportações e importações de um país. Com o aumento do dólar, fica mais caro
importar e mais barato exportar, o que ajuda a equilibrar essa conta. A balança
vem apresentando resultados positivos graças à alta do dólar. Em agosto, por
exemplo, a balança apresentou o melhor resultado em três anos
Empresas exportadoras – por terem custos em reais e receitas
em dólar, essas empresas se beneficiam da alta da moeda norte-americana.
Exemplos são as empresas de papel e celulose e do setor agrícola exportador,
como produtoras de soja e de suco de laranja. Esses setores ficam mais
competitivos lá fora, mas isso não significa que as exportações vão aumentar
imediatamente. "As empresas têm que buscar o mercado lá fora que perderam
antes, com o real valorizado", diz Nunes. Além disso, a economia mundial
não está tão aquecida para que haja muita procura pelos produtos brasileiros.
"Tirando os Estados Unidos, ainda estão meio mal das pernas Europa, China
e Mercosul"
Empresas voltadas ao mercado interno – Essas empresas se
beneficiam da alta do dólar pois sofrem menos competição dos produtos
importados
Turismo doméstico – o turismo nacional deve ganhar fôlego
com a desistência dos brasileiros de tirar férias no exterior. Mesmo assim, não
é esperado um aumento muito grande porque, apesar de o dólar estar mais caro, a
economia brasileira como um todo está mais fraca. "As pessoas estão
preocupadas com a crise e evitam gastar", afirma Edgar de Sá, economista-chefe
da FN Capital
Quem perde
Consumidor final – Os aumentos de custos na economia são
invariavelmente repassados para o consumidor, que sofre com a inflação e a
perda do seu poder de compra
Empresas importadoras – As indústrias que vendem produtos
importados ou que dependem substancialmente de matérias-primas importadas são
prejudicadas com a alta do dólar. Exemplos são a indústria química,
farmacêutica, revenda de carros importados, de perfumes, chocolates, vinho
importado. "Vai depender da capacidade delas de repassar a alta dos custos
ao consumidor", diz Nunes.
Empresas que tenham dívidas em dólar – Se a empresa fez
dívidas em dólar para compra de equipamentos ou insumos e não tem mecanismos de
proteção (hedge cambial) para pagamento dessa dívida, está com um problema
muito grande agora, afirma Luiz Fernando Roxo, economista da ZenEconomics
Pessoas que fizeram gastos no cartão de crédito no exterior
– Além do custo de 6,38% de IOF, o aumento do dólar faz com que o gasto no
exterior seja bastante aumentado. É por isso que os especialistas não indicam
fazer gastos expressivos com cartão de crédito no exterior, mas deixar seu uso
apenas para emergências
Quem tem viagem marcada para o exterior ou programa de
estudos no exterior – Com a alta dos preços lá fora, os turistas estão optando
por trocar a viagem por um destino nacional ou até mesmo escolher um país menos
caro. "Muitos turistas estão optando por fazer viagens para a América do
Sul e intercâmbios em países como Nova Zelândia", diz Edgar de Sá.
Fonte: Economia UOL
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